O QUE DEVE ENTRAR NA FORMAÇÃO DO ASTRÓLOGO?

Fernando Fernandes


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O ponto de vista de Astroletiva
e da Escola Constelar-Rio
 
A necessidade de uma releitura da prática astrológica atual, bem como de uma base intelectual que sirva de alavanca para profissionais de astrologia melhor preparados, vem sendo discutida ao longo dos últimos anos por astrólogos de diversas regiões do Brasil e do mundo. Desde que eu e Fernando Fernandes demos início aos cursos de formação online da Escola Astroletiva em 1999, estamos empenhados em difundir esse modelo o máximo possível. Entendemos que uma instrução abrangente e multifacetada na formação do astrólogo pode não só gerar profissionais capazes de lidar bem com grande variedade de problemas de seus clientes, como também garantir, a médio e longo prazo, a credibilidade da astrologia perante a sociedade, o que inclui uma possível reconsideração deste saber pelos mais exigentes círculos universitários.
Carlos Hollanda
16.01.2004


A visão moderna em educação está articulada em torno do conceito de objetivos educacionais, e não de conteúdos. Em outras palavras: a primeira pergunta que se deve fazer é que espécie de aptidões o estudante deverá ter desenvolvido ao término de sua formação para que possar desempenhar corretamente uma atividade. Naturalmente, isso implica formular um outro questionamento, que poderia assim ser expresso: o estudante está sendo preparado para fazer exatamente o quê? Qual a natureza de suas futuras atividades laborais? Tais questões, para serem respondidas, exigem que se lance mão de uma metodologia de análise profissiográfica. Uma das mais conhecidas – adotada, inclusive, pelo Ministério do Trabalho e por centros de formação profissional, como o Senai, é aquela que descreve conteúdos de trabalho em termos de atividade (o que é feito) e método (como é feito), sempre com uso de verbos de ação.

Astrólogos do século XVI:
uma discussão em torno de
premissas e métodos?

Tratar tecnicamente a formação do astrólogo pode parecer chocante para muitos praticantes deste saber, que defendem uma visão da Astrologia quase como uma forma de sacerdócio ou de prática oracular iniciática. Contudo é preciso lembrar que, se a Astrologia pretende um dia ver-se plenamente reconhecida como profissão e como prática acadêmica, será preciso que se chegue antes a um consenso sobre seu escopo e limites, a partir do que será mais fácil definir os pré-requisitos de exercício profissional. A metodologia adotada pelo Ministério do Trabalho para elaborar o Código Brasileiro de Ocupações parte deste fundamento: se uma atividade pode ser descrita e não se confunde com nenhuma outra, trata-se de uma ocupação singular. Se não pode ser descrita ou se a descrição não permite distingui-la de outras já existentes, então não é uma ocupação.

O trabalho do astrólogo envolve múltiplas facetas, exigindo o domínio de uma série de capacidades, competências e saberes. Calcular cartas e interpretá-las é a parte principal, mas não é tudo. Para termos o quadro mais abrangente possível, apresenta-se a seguir uma descrição de todas as atividades relacionadas ao cotidiano laboral do astrólogo. É mais ou menos como se o estivéssemos seguindo e registrando tudo o que faz, desde o momento em que recebe a encomenda do primeiro mapa até o momento em que vai apresentar os frutos de sua experiência num simpósio ou através da produção de um livro.

Descrição ocupacional das atividades desenvolvidas pelo astrólogo

Atividade 1 - relacionamento pré-consulta

Viabilizar a realização de consultas astrológicas, mediante a captação e o agendamento de clientes, a coleta de dados para elaboração de cartas e o prévio acordo quanto a condições de atendimento, serviços oferecidos e honorários.

Atividade 2 - levantamento de cartas astrológicas

Levantar cartas astrológicas, produzindo, conforme o caso, mapas radicais de indivíduos ou eventos, cartas de revoluções solares e lunares, trânsitos, progressões primárias e secundárias, arcos solares, mapas compostos, gráficos astrocartográficos ou outros que se fizerem necessários.

Atividade 3 - análise de cartas astrológicas

Compreender o significado básico e as múltiplas possibilidades de tradução de cada um dos fatores presentes nas cartas astrológicas levantadas.

Atividade 4 - interpretação de cartas astrológicas

Elaborar, com base na análise das cartas astrológicas, um quadro coerente das características fundamentais e do potencial de desenvolvimento de uma individualidade, de um evento, de uma instituição ou de um processo coletivo, assim como estabelecer, quando necessário, correlações significativas entre cartas de qualquer natureza.

Atividade 5 - situação de consulta

Estabelecer uma relação de consultoria com o cliente, fornecendo-lhe, com base na interpretação de cartas astrológicas e na consideração de fatores extra-astrológicos, elementos para a percepção de seu potencial como indivíduo, para o diagnóstico de situações presentemente vivenciadas e suas possibilidades de desdobramento futuro, assim como para a orientação comportamental, vocacional ou profissional ou sobre questões relacionadas à saúde, atividades financeiras, relacionamentos interpessoais, questões de natureza coletiva do interesse do cliente e outras que possam ser tratadas com segurança a partir do instrumental teórico da Astrologia.

Atividade 6 - registro e acompanhamento

Registrar e arquivar informações pertinentes à elaboração, análise e interpretação de cartas astrológicas, assim como as decorrentes da situação de consulta, com vistas a posterior recuperação para fins de consultas futuras ou como fonte de pesquisa.

Atividade 7 - ensino

Atuar como agente do ensino de Astrologia, exercendo, conforme o caso, o papel de instrutor, supervisor de estágio, avaliador do desempenho de estudantes, administrador escolar, formulador de conteúdos programáticos, redator de textos de natureza didática ou produtor de material didático áudio-visual.

Atividade 8 - pesquisa e produção de saber

Contribuir para o desenvolvimento da Astrologia como área de conhecimento, através da formulação ou revisão crítica de princípios teóricos e filosóficos, da elaboração de hipóteses e de metodologias de pesquisa, assim como da testagem de hipóteses mediante o uso de métodos estatísticos ou estudos de caso.

Atividade 9 - apresentação de temas astrológicos

Apresentar conceitos, opiniões, pareceres, previsões ou resultados de pesquisa decorrentes de sua atuação como astrólogo, por meio de palestras, conferências, entrevistas, produção de artigos em meio impresso ou eletrônico, programas radiofônicos ou qualquer outra forma de exposição pública.

Atividade 10 - atendimento de exigências legais e tributárias

Cumprir as exigências legais, tributárias, éticas e normativas que digam respeito ao exercício profissional da Astrologia.

Comentários

O núcleo do trabalho do astrológo – aquilo que ele tem de finalístico – é a atividade 5, a situação de consulta. Para o astrólogo que se dedica exclusivamente à consultoria, as atividades de 6 a 9 podem ser consideradas optativas. A atividade 5 define o consultor; a 7, o professor; a 8, o pesquisador; e a 9, o conferencista. A formação do astrólogo deve visar, antes de tudo, à formação de consultores, que é base para todas as demais.

É fácil observar que a complexidade das atividades, por analogia com outras áreas de exercício profissional, deveria situar a Astrologia como uma ocupação de nível superior ou de nível técnico especializado. Mesmo assim, não há no Brasil qualquer legislação restritiva que impeça alguém de apresentar-se como astrólogo, nem qualquer exigência de curso de formação regular. Contudo, tal situação tende a mudar nos próximos anos, a exemplo do que já ocorreu com a homeopatia, com a terapia floral e, mais recentemente, vem ocorrendo também com a acupuntura e a fitoterapia. A regulamentação profissional é hoje uma das principais bandeiras dos sindicatos e associações de classe.

As atividades-fim do astrólogo (consultoria e ensino) ocupam a parcela principal de sua rotina e representam o tema de mais de 90% do tempo dispendido em seu processo de formação. Entretanto, nenhum curso de Astrologia deveria negligenciar as atividades-meio que todo profissional deveria dominar, do que damos apenas um exemplo: um professor de Astrologia, além de conhecer profundamente seu métier, deve também estar apto para identificar objetivos educacionais, estruturar conteúdos programáticos, elaborar instrumentos de verificação etc. Em outras palavras: deve unir a competência do astrólogo à competência do educador.

Em resumo, as atividades do astrólogo, qualquer que seja a vertente filosófica ou a área de especialização, definem uma série de interfaces com outras áreas de conhecimento e atividades profissionais, que poderiam ser assim resumidas:

Conhecimentos imprescindíveis

1. Geografia, no que diz respeito a Cartografia (coordenadas geográficas), geodésia e movimentos da Terra no espaço. Um bom conhecimento da Geografia ensinada no curso médio já é suficiente para a maioria dos astrólogos. Aqueles, porém, que se dedicam a técnicas relacionadas à astrolocalização (Local Space, Astrocartografia, equivalentes geodésicos e outras) precisam ter um conhecimento adicional, envolvendo os fundamentos da Geografia Física e Política. Caso contrário, corre-se o risco de prever um terremoto para uma região geologicamente estável, ou de não se conseguir levantar uma carta para um país estrangeiro, com fusos horários e horários de verão diferentes dos nossos.

2. Astronomia, envolvendo noções sobre o sistema solar, órbitas, movimentos da Terra, Uranografia (mapeamento de estrelas fixas, constelações etc.). Astrólogos deveriam ao menos ser capazes de reconhecer constelações no céu, entender por que escolher entre um sistema de casas e outro, distinguir o zodíaco tropical do zodíaco precessionado etc. O desconhecimento de noções elementares de Astronomia pode levar o astrólogo a afirmações exóticas, como o que declarou a um jornal de grande circulação que Plutão estava “andando para trás” no céu. É verdade que a Astronomia lida com movimentos reais e a Astrologia, com movimentos aparentes (como a retrogradação). Mas é necessário ao menos compreender a diferença entre ambos!

3. Mitologia, para a compreensão dos processos simbólicos que permeiam o imaginário de todas as civilizações, especialmente a greco-romana, cuja simbologia constitui uma das bases da estruturação do pensamento astrológico.

4. Noções de Matemática, especificamente fundamentos de geometria aplicáveis à Astrologia e à Cartografia e cálculo em base sexagesimal (com graus, minutos e segundos). A dose de conhecimento matemático exigida hoje do astrólogo é significativamente menor do que há duas décadas, antes da popularização dos microcomputadores. Mas há alguns conhecimentos básicos que todo astrólogo precisa ter. É inadmissível, por exemplo, que um astrólogo profissional não saiba calcular qual o arco existente entre um planeta a 27°14’ de Leão e outro a 18°26’ de Libra. Todo o trabalho com análise de aspectos e previsões depende disso – que, aliás, é muito mais fácil do que parece!

5. Princípios básicos de Psicologia, especialmente quanto a noções fundamentais sobre relacionamentos interpessoais e técnicas de aconselhamento. O astrólogo não precisa ser um psicólogo, a não ser que pretenda dedicar-se não apenas ao diagnóstico, mas também à psicoterapia. Mas precisa, ao menos, ter um mínimo de informação técnica sobre as características da interação consultor-paciente e sobre como conduzir-se nesta situação. Cabe ao astrólogo também, em alguns casos mais do que evidentes, sugerir o encaminhamento do cliente para atendimento médico ou psicoterápico, o que exige tato, serenidade e algum conhecimento de causa.

Conhecimentos desejáveis

1. Metodologia de Pesquisa, incluindo princípios básicos de pesquisa de dados e de apresentação de seus resultados, assim como noções de técnica de arquivo e de recuperação de informações. É inadmissível um astrólogo que chegue, por exemplo, depois de alguns anos de prática, à marca de mil clientes atendidos sem guardar qualquer registro das consultas realizadas. Isto significa que ele não está aprendendo com a experiência, já que não tem como recuperá-la.

2. História, com vistas à contextualização do conjunto de crenças, conhecimentos tecnológicos, concepções míticas e filosóficas e condições sócio-culturais que contribuíram para a evolução do conhecimento astrológico. Um astrólogo que não tenha, por exemplo, uma clara noção das diferenças entre a sociedade medieval e a contemporânea terá dificuldades para compreender porque a Astrologia Clássica utiliza uma linguagem e pressupostos teóricos tão diferentes dos atuais.

3. Princípios básicos de outras Ciências Sociais, como Antropologia e Sociologia. O astrólogo não precisa ser formado nessas ciências, mas precisa dominar suas metodologias caso pretenda dedicar-se a produzir análises para entidades coletivas e organizações políticas. O astrólogo não tem como substituir tais profissionais, exceto se ele mesmo tiver formação acadêmica numa ou mais dessas áreas. Inclui-se aqui também o estudo de Filosofia como parâmetro formador de um pensamento claro e sem desvarios.

4. Informática básica, necessária para o levantamento de cartas (softwares astrológicos), para o controle de clientes e registros de consulta (bancos de dados), para a produção de material didático (editores de texto) e para a comunicação com terceiros (recursos de Internet). O astrólogo sem a mínima noção de informática é um animal jurássico condenado à extinção!

5. Marketing, legislação e ética profissional, na medida em que o astrólogo é um prestador de serviços e precisa divulgá-los de forma correta, ética e eficaz. Observe-se que, na quase totalidade dos casos, o astrólogo precisa ser o próprio divulgador de seu trabalho, o que significa dizer que freqüentemente estará elaborando textos de apresentação, folders etc. Neste ponto, a questão ética é fundamental. O profissional que promete mundos e fundos acaba por prejudicar a imagem de toda a sua categoria, além de ferir frontalmente a Lei de Defesa do Consumidor (por lançar mão de propaganda enganosa) – como os serviços de tele-atendimento, cuja publicidade apresentava seus responsáveis como magos ou iniciados (lembram-se de Walter Mercado?). Além disso, há a questão delicada das fronteiras da Astrologia com a Medicina e a Psicologia. O astrólogo, por lei, não pode, por exemplo, emitir laudos psiquiátricos ou prescrever medicamentos – sequer os homeopáticos – pois tal postura caracterizaria prática de charlatanismo, passível de sanções penais.

Conhecimentos específicos

Sendo a Astrologia uma área de síntese, onde várias vertentes de conhecimento marcam encontro, seria desejável também que o astrólogo tivesse noções de História da Filosofia, Economia, Geopolítica (em Astrologia Mundana), Fisiologia, Fisiopatologia e Nutrição (em Astrologia Médica), Mitologia e Religião Comparada (em Astrologia e esoterismo ou aquela ligada a manifestações culturais) e assim por diante. O essencial é que se considere que cada área de especialização em Astrologia exige conhecimentos adicionais específicos, além dos básicos de que todos necessitam. O astrólogo deve estabelecer como limite de sua atuação as áreas que realmente domina, partindo do pressuposto, inclusive, de que é impossível dominar todas. A Astrologia Financeira, por exemplo, é uma dessas áreas que exigem bons conhecimentos complementares. O astrólogo que tenta fazer previsões econômicas sem ter a menor noção de como funciona o mercado financeiro estará certamente arrumando encrencas!