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Vanessa Tuleski


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DÁ UMA OLHADINHA NO MEU MAPA?
Por que os astrólogos são tão
solicitados a darem consultas gratuitas?

Não há um estudante de astrologia ou astrólogo que já não tenha ouvido isto. É compreensível que se faça a pergunta. A astrologia parece algo meio misterioso, que não se sabe bem qual é o alcance, o que ela pode fazer ou não. É natural que ela desperte curiosidade. Quem não quer saber um pouquinho o que lhe aguarda ou ver alguém falar de si mesmo?

Entretanto, é preciso conhecer, também, o lado de quem ouve a pergunta. Quando se é estudante, é um tanto desafiador quando alguém pede que dê uma olhadinha no mapa. De um lado, isto pode ser uma oportunidade de se exercitar, mas, de outro, o estudante normalmente não se sente preparado para esta tal olhada. Somente muitos anos depois é que ele vai entender que 'dar uma olhadinha', por incrível que pareça, é uma das coisas mais difíceis que existem. É preciso ser um profissional experiente para se dar consultas rápidas, pois não se trata de apenas uma questão de improviso, mas de muito conhecimento acumulado para se dispor em uma hora assim, e de saber o que enfocar em tão curto espaço de tempo.

Mas e a 'olhadinha' que se pede ao astrólogo? Ela acontece em dois contextos. O primeiro seria o social e familiar. O grande problema desta 'olhadinha' é que a situação não é a profissional. É preciso um cenário de imparcialidade para que uma consulta seja produtiva, e, inclusive, possa receber este nome. O fato de você ser o Carlinhos, a Pati ou o Dudu colide com o seu papel de astrólogo. Além disso, no contexto familiar, normalmente o astrólogo não quer ser o profissional, e sim, justamente Carlinhos, Pati e Dudu. Ou seja, quem ele sempre foi lá. Outro ponto é que haverá coisas que ele simplesmente não poderá dizer como Carlinhos, Pati ou Dudu. Afinal, lá ele é o parente, e não o astrólogo que não tem um vínculo com aquela pessoa e não terá de conviver com ela. Este limite com certeza faz diferença. O relacionamento que se tem com um parente impede a franqueza e a profundidade fundamentais em uma consulta. E não apenas isto: aquela pessoa, para o astrólogo, pode já estar 'formatada', ficando mais difícil de se enxergar o mapa dela imparcialmente, como ser faria com um cliente. Resumindo em palavras mais simples: dar uma olhadinha no contexto social e familiar costuma gerar bloqueios no astrólogo que faz a leitura, seja porque ele não queria estar fazendo aquilo, seja porque, por mil fatores, ele não pode falar como falaria em seu consultório com um cliente. Quase nunca é uma boa idéia e por isto você não verá muitos astrólogos ansiosos para exercerem este papel em seu contexto familiar!

Intimidade X Profissionalismo

Digamos, porém, que o parente ou amigo seja alguém com quem se tenha muita intimidade. Pode-se conhecer muito bem desta pessoa e a seu mapa, mas aí há a questão do envolvimento. Por vezes, o envolvimento tira a objetividade em certos pontos, porque o astrólogo pode se ver tentado a ver o que seria desejável, e não o que de fato é, torcendo um pouco as coisas. É verdade que em outros momentos ele vê o mapa do parente e do amigo claro como água. Mas aí entra a questão: cabe a ele, naquele momento, ser o amigo ou o astrólogo? Amigo e astrólogo podem falar coisas diferentes. Os astrólogos sabem que muitas vezes aquilo que eles têm para dizer não é lá muito agradável. Teriam o direito de interferir, usando o peso imaginário que o fato serem astrólogos tem (mesmo entre seus parentes e conhecidos), ou precisam deixar o outro viver o que é para ser vivido? Que papel deve preponderar? Há momentos em que o papel de amigo e o de astrólogo podem simplesmente colidir, e o astrólogo acaba tendo de optar por apenas ser o amigo e pronto. Ademais, não dá para exigir dele, naquele contexto, a precisão que ele teria com um cliente. Também é preciso lembrar que mesmo quando o astrólogo decide dar um palpite aqui ou acolá 'santo de casa não faz milagre', isto é, pessoas próximas nem sempre são ouvidas. Enfim, aconselhar pessoas próximas é algo complexo, que em determinados momentos funciona belamente, com preciosas dicas sendo passadas, e, em outros, o astrólogo prefere se abster para poder ser o pai, o irmão, o amigo, o amante, etc.

O segundo contexto em que o astrólogo se depara com a pergunta 'dá uma olhadinha' é o profissional. Sem mais nem menos ele recebe um e-mail assim: 'olá, tenho 37 anos, nasci no dia tal, horário x e cidade y e estou passando por um momento muito difícil na vida pessoal, pode me ajudar?'. E-mails assim são frequentes. Difícil o astrólogo que não tenha recebido uma mensagem deste teor e não tenha se perguntado do que a pessoa acha que ele vive. De eflúvios positivos ou de agradecimentos? A julgar pela quantidade de e-mails assim, todos os astrólogos devem ser pessoas ricas que nada mais fazem do que dar consultas gratuitas. Parece haver duas suposições por detrás deste tipo de 'consulta':

1 - A de que o astrólogo está à disposição da comunidade (embora misteriosamente não seja sustentado por ela!), ao contrário de médicos, engenheiros, advogados, enfermeiros, etc, que cobram pelo trabalho que fazem.

2 - A de que astrólogos, por serem astrólogos, devem ajudar de graça, pois dispõem de um 'conhecimento especial'. O curioso é que em geral não se pede o mesmo de psicólogos e outras profissões diretamente ligadas a ajuda ao próximo, só de astrólogos.

"Consultas expressas" e gentilezas

Mas, para fazer justiça, há e-mails menos diretos, em que quem escreve se preocupa em ser gentil, elogiar o astrólogo, reconhecer o ser humano por detrás dele e escrever de um modo agradável. Dentre estes e-mails, situam-se aqueles que podemos chamar de 'consultas expressas'. São pessoas que não estão pedindo para se analisar os seus mapas de graça, mas que estão com um problema específico, como a dúvida de uma data de uma cirurgia, por exemplo. A respeito disso, é necessário dar duas explicações.

1 - Não se pede a nenhum profissional um trabalho gratuito de qualquer natureza, a menos que ele esteja oferecendo. A maioria das pessoas vive uma vida corrida, e pode parecer que um favor assim não pesa, mas pesa. Se você teve a idéia de fazer uma pergunta, outras pessoas já tiveram. Se você escreveu pedindo algo, não foi o primeiro.

2 - Nenhuma consulta é simples para um profissional sério. Assim sendo, nenhuma consulta é rápida e fácil. Datas para cirurgias são das coisas mais complicadas que existem. Aliás, poucas tarefas são tão difíceis quanto escolher datas para qualquer evento, de cirurgias a casamentos, passando pela abertura de lojas.

Uma palavra especial merece ser dita sobre os relacionamentos. A maior parte das abordagens para consultas gratuitas giram em torno dos relacionamentos. Normalmente, a pessoa cita o seu signo, o do seu par, às vezes fornece as datas de nascimento (sem a hora e local), fala brevemente do seu problema e - tchan, tchan, tchan! - pergunta ao astrólogo se há chance de o relacionamento dar certo ou se os dois combinam. Bem, será que dizer se duas pessoas combinam ou não, se o relacionamento vai dar certo, é algo que possa ser feito de forma tão rápida e objetiva quanto as perguntas sugerem? Se falar sobre o mapa de um indivíduo é complexo, que dirá falar da relação entre dois mapas...! As pessoas que fazem este tipo de pergunta também dão ao astrólogo um poder que ele não deveria ter, que é o de classificar suas relações e tomar decisões por elas. A premissa de que elas partem já é errada. Imaginar que há respostas 'prontas' sobre relacionamentos, bastando saber os signos e as datas dos envolvidos, é mediocrizar a vida. Felizmente, a maior parte dos astrólogos não responde a este tipo de pergunta, seja porque é mais complicado do que as pessoas imaginam (e isto envolve tempo, e tempo exige remuneração), seja porque não se sentem aptos a dizer 'vocês combinam ou não combinam'. Aliás, se não fosse algo imprudente e totalmente antiético, seria interessante após um pedido de cinco linhas, dar a resposta, objetiva, em cinco linhas também. A vida resumida em dez linhas, cinco linhas suas, cinco minhas, que belo...!

Pô, tá muito caro!!

O 'dá uma olhadinha' também é algo que floresce porque as pessoas acham os serviços de um astrólogo caro. Assim, tentam uma aposta para pagarem menos ou terem uma informação gratuitamente. Tem-se pouca consciência de que informação é tudo o que compõe uma profissão. Um médico só é um médico porque acumulou informações. Talvez não se perceba que ser astrólogo é uma profissão. As pessoas ainda confundem o astrólogo com um místico, um ser dotado de poderes especiais, e não como alguém que estudou, e continua estudando, astrologia.

Mas voltando a questão do preço, sim, uma consulta com um astrólogo, sobretudo para se fazer uma previsão, não é algo barato, mas a qualidade do que está sendo dito aí certamente vale para um ano ou mais, e, sob este ponto de vista, o valor cobrado é irrisório. Divida o valor de uma consulta por 365 dias e veja quanto dá por dia. Se o valor não fosse justo, astrólogos não teriam clientes retornando. Ninguém volta a pagar por algo que considerou pouco útil. Em segundo lugar, há a própria questão do sustento. O astrólogo é um profissional liberal. Se cobrar um preço muito baixo por uma consulta não conseguirá ser astrólogo, vai ter de trabalhar em outra profissão e, com isto, sobrará pouco tempo para se aperfeiçoar e acumular experiência em astrologia. O preço, portanto, não é algo arbitrário, e sim, calculado considerando-se investimento de tempo, esforço, experiência (você acha justo um astrólogo experiente cobre o mesmo que um estudante?) e a própria questão de conseguir se sobreviver da profissão.

O astrólogo trabalha com algo precioso, que é a informação, e a informação pode fazer uma diferença monstruosa se for bem empregada. Quando se pede uma olhadinha, mesmo que não seja esta a intenção, não se está respeitando o profissional, aquilo que ele estudou e a própria seriedade com que ele leva a profissão. Nenhuma profissão, se levada a sério, é simples. Da mesma forma que você não pode pedir, em uma mesa de bar, que um engenheiro resolva um caso que você está apenas contando por alto, não faz sentido solicitar informações a um astrólogo gratuitamente ou fora de contexto. Aliás, o contexto, como já foi dito, é muito importante. Normalmente, para extrair uma informação que está sendo solicitada um astrólogo tem de olhar inúmeros fatores. É preciso tempo, concentração e uma relação estabelecida para que a informação seja transmitida e recebida da forma como tem de ser. O astrólogo tem de estar investido de seu papel de astrólogo e se sentindo respeitado como tal. A 'olhadinha' já quebra tudo isto: a relação que precisa se estabelecer, o reconhecimento de que o astrólogo é um profissional, e não um místico à disposição das pessoas, e a percepção de que a astrologia é um estudo complexo, que requer tempo e concentração.

"Pra você é fácil" - claro, depois
de vários anos estudando e se esforçando muito...

O próprio profissional não se sente satisfeito em dar 'olhadinhas'. O estudo o equipou para trabalhos mais profundos, que, inclusive, retornam mais em termos pessoais. Estes trabalhos precisam do ambiente certo, da remuneração que o faça se sentir respeitado e valorizado e de um grau mínimo de impessoalidade, que é necessário a qualquer profissão, e não somente a profissão de astrólogo. A tal 'olhadinha' gera, para o profissional, insatisfação e a sensação de incompletude e superficialidade. Ou então ele é obrigado a se esforçar mais do que as pessoas imaginam quando pedem para espiar isto ou aquilo, e a palavra para isto, embora pareça um tanto pesada, seria 'exploração'. Se alguém é um profissional de algo, pedir favores a esta pessoa, a partir de um certo limite, passa a ser explorar. Normalmente, os astrólogos são muito disponíveis para dar informações genéricas, para explicar como funcionam as coisas. A maioria tem até prazer em tirar dúvidas desta natureza. Porém, a partir do momento em que se tenta obter informações pessoais, você está saindo do contexto da informação genérica para um serviço, e todo serviço precisa ser remunerado.

Por último, profissão nenhuma é feita de 'olhadinhas', 'pitaquinhos', 'palpites'. Não dá para fazer nada direito na base da 'casquinha' tirada aqui ou acolá. Profissionais não dão palpites: eles estudam um caso em profundidade. É assim que tem de ser, pois é isto que se espera de um profissional. Você não quer alguém que 'dê palpites em engenharia', você quer um engenheiro. Então o aborde como um profissional, estabelecendo uma relação desta natureza, que incluirá remuneração. Para se tornar profissional em algo você tem de atingir um nível mínimo de excelência, e é mais do que natural que seja remunerado por ter alcançado este patamar. A 'olhadinha' provoca uma ruptura nisto, pois ela ignora que o profissional precisa de remuneração para continuar a ser profissional, que é um fato simples e básico. Portanto, se possível, não peça uma olhadinha de algo pessoal. Se o seu astrólogo não fornece o preço de quanto custa um determinado serviço, pergunte a ele quanto ele pode cobrar por aquilo e se ele quer fazer aquele trabalho. E lembre-se que, assim como você, provavelmente ele tem uma vida ocupada. No contexto de uma vida ocupada, ficar fazendo favores aqui e ali acaba, inevitavelmente, tirando o tempo para atividades que seriam mais importantes para aquela pessoa. Além disso, examine mesmo se você necessitaria de um favor ou se você não pode pagar por mais um serviço como pagaria a qualquer outro profissional, de um encanador a um advogado.

Concluído em 08/09/2003.

Veja também um artigo que comenta o processo de consultas, em "Astrologia, Cursos e Consultas e o Processo de Autoconhecimento"

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