Astrologia no Banco dos Réus
Perguntas
e Respostas
Conexão
Zigurat
Argumentos e Falácias
(fonte: Dicionário Aurélio)

Argumento ad hominem.
1. Argumento com que se
procura confundir o adversário, opondo-lhe seus próprios atos
ou palavras.

Argumento ad judicium.
1. Argumento fundamentado
na opinião corrente ou
no senso comum.

Argumento ad populum.
1. Sofisma em que se ssociam
ao objeto da argumentação
elementos que tocam à sensibilidade, às necessidades, às aspirações, aos temores, etc., do público que se quer convencer.

Argumento ad rem.
1. Argumento relativo ao assunto em foco.

Argumento baculino (ad baculum).
1. Argumento que consiste em pretender provar a existência do mundo exterior golpeando o solo, ou mesmo aquele com quem se argumenta, com um bastão.
2. P. ext. Demonstração ou refutação de uma tese filosófica por meio de uma ação material, como, p. ex., mover-se, para provar, aos que negam a possibilidade do movimento, que este existe.
3. Imposição de uma tese com base no medo ou na timidez do adversário em face da superioridade física de quem argumenta.

Argumento da autoridade
1. V. apelo ao respeito.

Levar um argumento. Bras. Gír.
1. Ter diálogo; manter conversação; tratar um assunto.

 

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1- Astrologia e métodos epistemológicos

FINALIDADE: esclarecer que a Astrologia não está em desacordo com as premissas da Epistemologia.

TÍTULO DADO: (vários títulos para vários capítulos)

ONDE E QUANDO FOI USADA ORIGINALMENTE: durante o mês de julho de 2002, em réplica ao artigo escrito pelo jornalista filósofo Hélio Schwartsman. Editado no site Companhia do Céu.

AUTOR: Edil Carvalho

ARTIGO PUBLICADO NO EDITORIAL DO JORNAL DA FOLHA EM 02 DE JULHO DE 2002 E QUE GEROU TODA A TROCA DE CORRESPONDÊNCIA ABAIXO.

O CÉU COMO LIMITE, por Hélio Schwartsman: http://www.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0207200203.htm

E-MAIL ENVIADO AO JORNALISTA DIA 4 DE JULHO DE 2002

INEPTO OR NOT INEPTO: É ASSIM O JORNALISMO?
Pelas regras da epistemologia conhecida, é indevido afirmar que a
astrologia seja uma ciência.
jornalista Hélio Schwartsman

Hélio,

Se, de fato, você é um jornalista tão consciente do significado do exercício profissional a ponto de tecer comentários sobre a invalidade da astrologia e da sua descabida regulamentação, deveria se informar o suficiente sobre o assunto da pauta que lhe cabe antes de redigi-la. Afinal, é só dar uma olhadinha mais aprofundada em qualquer livro que tenha se proposto a discutir seriamente o tema epistemológico para verificar que a sua afirmação não procede e que, além disso, turva a topologia dos fatos e das informações, criando uma imagem enviesada e falsa sobre algo que - de repente - pode ser até verdadeiro.

Pelas regras da epistemologia, é fundamental observar os princípios em que uma determinada ordem de conhecimentos está baseada, os métodos de que ela se utilizou para verificar suas hipóteses e, assim, o seu desenvolvimento até alcançar o status de ciência. Ela é, a grosso modo, uma disciplina que estuda aquilo que concebemos como a formação da ciência. Por isso, ela também considera e verifica qual a grade de interpretação que está em jogo na formação de um conhecimento, isto é, por quais critérios e valores um determinado fato ou fenômeno é investigado.

A epistemologia não cuida, assim, somente do objeto que está sendo visto, mas também - e sobretudo - dos instrumentos cognitivos que estão sendo usados para que este objeto seja reconstituído e retratado em toda a sua inteireza e complexidade. A epistemologia se funda nestas duas fronteiras, como uma ponte: no objeto e no meio pelo qual este objeto é conhecido, sendo esta interação extremamente necessária para se medir e avaliar o estágio de qualquer conhecimento.

Essa pequena preliminar se faz necessária somente para esclarecer que, pela grade epistemológica da ciência moderna, é, sim, absolutamente impossível compreender uma ciência que faça parte de uma outra estrutura epistemológica, tal como a Astrologia, que integrava o corpo pedagógico das Artes Liberais até meados do século XIV, quando a cosmovisão humana era outra. No entanto, isto não é suficiente para afirmar que este corpo de conhecimentos seja inválido - ainda mais pelas regras da epistemologia, que exige que se reconheça e se reconstitua os critérios e os valores em que este conhecimento se edificou, vendo este conhecimento dentro do seu respectivo quadro de valores.

Aliás, este é a advertência que Michel Foucault deixa a entrever no livro AS PALAVRAS E AS COISAS, ao explicar que pelo século XVII houve uma ruptura abrupta de valores e conceitos, um salto repentino de um determinado quadro de significados para outro, de uma episteme para outra, impedindo que se estabelecesse uma revisão progressiva e gradual destes mesmos valores, dando estes por ultrapassados e enterrados num passado sem mais valor.

Pelas regras da epistemologia, o que se torna indevido é analisar uma forma de conhecimento fora de seu quadro de valores - ou sob o enfoque de um outro quadro de valores, que é o que você está fazendo, juntamente com outros, que sequer compreendem a beleza de uma disciplina como a epistemologia e o quanto ela só tem a contribuir para a recuperação e para o desenvolvimento da Astrologia.
Como sou bom astrólogo e me preocupo com a imagem da disciplina que exerço, recomendo alguns livros para sua formação e leitura. Quem sabe, assim, os seus profissionais possam fazer jus e dignificar a própria atividade.

1) WEBER, MAX. Sobre a Universidade. Ed Cortez-SP, 1989

2) HUSSERL, EDMUND. A Crise da Humanidade Européia e a Filosofia. Ed Edipucrs-RS, 1996

3) GRANGER, GILLES-GASTON. A Ciência e as Ciências. Ed Unesp, 1994

4) MOLES, ABRAHAM. As Ciências do Impreciso. Ed Afrontamento-Lisboa, 1995

5) BRONOWSKI, JACOB. O Senso Comum da Ciência. Ed Itatiaia-SP, 1977

6) __________________ Ciência e Valores Humanos. Ed Itatiaia-SP, 1980

7) GUÉNÓN, RENÉ. A Crise do Mundo Moderno. Ed Vega-Lisboa, 1977

8) ______________ O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos. Ed Dom Quixote-Lisboa, 1989

9) AS PALAVRAS E AS COISAS, de Michel Foucault – Editora Martins Fontes - 1992

10) AS DUAS CULTURAS E UMA SEGUNDA LEITURA, de Charles Percy Snow – Editora Edusp – 1995

RESPOSTA ENVIADA PELO JORNALISTA DIA 04 DE JULHO DE 2002

Caro Edil,
Aprecio muito Husserl, Foucault e Granger, mas, quando o assunto é epistemologia, o jornal fica na companhia de Popper, Kuhn, Feyerabend e do "mainstream" científico.
Atenciosamente,
H.

OUTRO E-MAIL ENVIADO AO JORNALISTA NO MESMO DIA

É UMA QUESTÃO DE PARTIDARISMO BIBLIOGRÁFICO?

Caro Hélio,

Você aprecia os autores citados e diz que, de acordo com o jornal, há de se ficar na companhia de outros autores - inclusive Feyerabend. É mesmo? Então, como explicar o fato de que o mesmo pensador tenha dito:

"O julgamento dos 186 notáveis cientistas <contra a astrologia> repousa na antropologia antediluviana, uma ignorância dos mais recentes resultados em seus próprios campos (astronomia, biologia e a conexão entre os dois), bem como na carência para perceber as implicações dos resultados que conhecem. Mostra a dimensão de quanto os cientistas estão prontos a afirmar sua autoridade, até mesmo em áreas em que não possuem qualquer conhecimento".

E como explicar o fato de que o outro autor citado, Popper, tenha dito:
"Eu... acredito que existe um problema biológico no qual todos os pensadores estão envolvidos. É o problema da cosmologia: o de compreender o mundo – inclusive a nós mesmos, e nosso conhecimento, como parte do mundo. Toda a ciência é cosmologia, creio eu, e para mim o interesse em filosofia, não menos que na ciência, repousa unicamente nas contribuições que esta fez para aquela".

Mais ainda: como explicar o artigo de Filipe Ceppas, mestre em filosofia, PUC/RJ, doutorando em filosofia da educação e que segue abaixo, e que inclusive aconselha a leitura do próprio Feyerabend para compreender a Astrologia mais profundamente? De duas, uma: ou os autores com que o nobilíssimo Jornal da Folha prefere ficar são acometidos de contradições e, ora dizem uma coisa e, ora, outra, deixando a impressão de que tudo se resume numa questão de partidarismo bibliográfico, de escolha pessoal, a despeito de uma possível verdade que possa existir; ou você diz que o seu Jornal fica em companhia destes autores, muito embora não consiga ficar em companhia dele.

Sobre o eterno caso da astrologia*

"Quando os cientistas confundem a potência hermenêutica e criativa dos signos com a pretensão da verdade da ciência, e atacam, com zelo impecável, a astrologia e outras 'crenças populares', sem levar em consideração seus aspectos lúdicos, históricos, sociológicos, simbólicos, psicológicos, existenciais, etc., eles parecem se igualar aos astrólogos infelizes que defendem a astrologia como ciência.

Esses cientistas baseiam suas críticas em um conhecimento superficial não apenas da astrologia, mas também da história da cultura e da própria história da ciência. Ao invés de encarar a astrologia como uma interessantíssima porta de entrada à história da ciência de modo geral e à própria compreensão científica dos fenômenos celestes, de propriedade de uma astronomia aparentemente tão frágil, tão ameaçada; ao invés de encará-la como possível objeto de estudo, onde pode-se fazer cruzar, ainda, estudos filosóficos, sociológicos e antropológicos, com o intuito de se compreender criticamente os sentidos dessas 'hermenêuticas' na sociedade; eles reduzem tudo a uma luta entre a santa razão luminosa e o irresponsável charlatanismo obscurantista.

Esses cientistas parecem preferir que a astrologia continue tendo a força que sempre teve; que seus praticantes mantenham a aura esotérica que 'desencaminha' a população com crendices e espírito anti-científico. Eles não querem negar apenas o direito de um grande contingente de profissionais a uma melhor formação; eles negam, de modo autoritário, até mesmo que se discuta tal assunto seriamente.

De certo que eles nunca leram os textos fundamentais de Paul Feyerabend, Adorno ou Yates sobre o assunto. Aconselho tais leituras, antes que, por coerência, após tão augusta batalha, a sociedade cobre deles outra santa cruzada, agora contra os cursos superiores de teologia."

Mensagem de Filipe Ceppas, mestre em filosofia, PUC/RJ, doutorando em filosofia da educação, PUC/RJ, professor contratado do Depto. de Didática da UFRJ e professor do Depto. de Filosofia da Universidade Gama Filho.

*artigo enviado ao JB on line no final de junho como réplica ao artigo publicado no JC E-MAIL de 25 de junho de 2002
http://200.177.98.79/jcemail/Detalhe.jsp?id=3024&JCemail=2061&JCdata=2002-06-25

NOVA RESPOSTA DO JORNALISTA, NA MESMA DATA

Caro Edil,

Se você diz que essas passagens são de Feyerabend e Popper, acredito, ainda que você não tenha colocado a referência. Elas não trazem, contudo, a afirmação da validade da astrologia como ciência. A primeira fala mal de cientistas. A segunda faz considerações sobre a cosmologia cujo alcance, fora de contexto, fica difícil entender.

Por fim, você anexa um texto que não diz coisas muito diferentes do que afirmou o editorial quando reconheceu que a astrologia tem valor como manifestação cultural e literária (os "aspectos lúdicos, históricos, sociológicos, simbólicos, psicológicos, existenciais, etc.")

No mais, Feyerabend e Popper, como quaisquer autores, por vezes incorrem em contradições. Por vezes somos nós, leitores, que vemos contradições onde há apenas diferenças de ênfase ou oposições inocentes.
Abraço,
H.

MAIS OBSERVAÇÕES DO ASTRÓLOGO, NO DIA 5 DE JULHO DE 2002

JORNALISMO x ASTROLOGIA

Hélio,

Obrigado pela confiança depositada em mim, mesmo tendo omitido a referência de onde recolhi os trechos mencionados. Ei-las:

1) do Paul Feyerabend se encontra no livro Science in a Free Society, New Left Books, 1978. Maravilhoso. De imprescindível leitura. Tanto é que o Filipe Ceppas, mestre em filosofia, PUC/RJ, recomenda tal autor no final do seu artigo como um antídoto intelectual para certos cientistas que preferem que a Astrologia continue tendo a aura esotérica que sempre teve, e que desencaminha a população com crendices e espírito anti-científico. No entanto, não creio que esta postura seja uma exclusividade dos cientistas: pelo o que estou vendo, a mídia tem agido assim - ou, pelo menos, o Jornal da Folha. Afinal, tanto os agentes da mídia quanto os agentes da ciência não estão querendo negar apenas o direito de um grande contingente de profissionais a uma melhor formação, como bem frisou o Filipe Ceppas; eles estão negando, lá de cima das suas cátedras, até mesmo que se discuta tal assunto seriamente. Se assim não fosse, você não poderia ter dado a epistemologia como uma referência contra a astrologia, e nem contra-argumentar dizendo que, nesta matéria, a Folha está com outros autores, como se tudo fosse uma questão da linha adotada. Aliás, se há mais de uma linha nesta disciplina, e se tudo se torna uma questão de preferência e gosto, a epistemologia - na sua totalidade - não pode ser dada como uma referência que ateste a invalidade da astrologia, visto que somente uma parte dela, uma linha dela, pensa deste modo - tal como você deixou entender. A despeito de todo este imbrólio, é verdade quando você diz que o trecho recolhido não deixa a entender que o autor afirme a validade da Astrologia como ciência, visto que ele apenas critica a postura dos cientistas com relação ao tema tratado. Mas isto é verdade apenas com relação ao trecho recolhido - e não ao seu todo. Sugiro que você aproveite a ocasião e leia o livro para se inteirar do assunto.

2) do Karl Popper eu ignoro onde esteja. Nunca o li. Quem o toma por referência quanto o assunto é epistemologia é a Folha, e não eu. Porém, como procuro estar a par de tudo aquilo que se refere ao tema astrológico, mesmo que tangencialmente, vou tratar de lê-lo. Assim saberei qual a linha da epistemologia que a Folha preferiu adotar. No entanto, saiba: recolhi este trecho de um livro onde ele figura como epígrafe, o Astrologia, a Evidência Científica, do astrônomo Percy Seymour, Ed. Nova Era, 1997. E só fiz isto porque a Astrologia é uma expressão de natureza cosmológica, muito embora o autor só tenha feito referência a cosmologia e jamais a astrologia, como você muito bem observou. Aliás, como disse, sei lá o quê Karl Popper pensa da Astrologia, e se pensa algo sobre isto. No entanto, o que sei de cosmologia é suficiente para admitir que ela tem a virtude de constituir um princípio através do qual o ser humano tenta interpretar a relação de si próprio com o universo que o cerca, tentando assim descobrir o significado da própria existência, se tornando um grande instrumento - inclusive - para entender como certa coletividade em certo período construiu seu universo intelectual (vide Errol Harris: Cosmos and Anthropos e Cosmos and Theos, absolutamente im-per-dí-veis) . Só coloquei este trecho porque achei curioso que o "epistemólogo" que o Jornal da Folha considera tenha feito observações sobre a necessidade de que a expressão científica tenha a dimensão cosmológica - e só.

Por fim, é também verdade quando você diz que certos autores incorrem em contradições, e que muitas das vezes somos nós, os leitores, que enxergamos contradições onde há apenas diferenças de ênfase. Mas, se assim é, e se você se mostra como um indivíduo que tem consciência disso, com sensibilidade suficiente para discernir o quanto uma informação corre o risco de ser mal interpretada, como é que você escreve aquilo que você escreveu sobre a epistemologia e a astrologia, que levaria qualquer cidadão comum a concluir que a segunda é invalidada por aquela primeira, de nome difícil e que, por isso mesmo, parece ter muita respeitabilidade e autoridade? Como é que você, como jornalista, que fez esta observação tão sensível sobre o ato de interpretar as palavras, pode contribuir tão decisivamente para uma má interpretação, senão para a contínua difamação pública que a Astrologia vem sofrendo da mídia leviana? Como?
Poderia continuar meu discurso, analisando a relação que você estabeleceu entre a matéria escrita por você no editorial da Folha e o artigo do filósofo da Puc do Rio, mas não dá. Não dá porque qualquer discurso futuro que possamos travar estará, como já está, profundamente eivado da necessidade de descobrir onde é que o outro tropeçou intelectualmente, mencionando, em curtas ou extensas palavras, que não houve uma remissão, que existem outros autores pensando sobre o mesmo assunto, que o trecho recolhido não enfoca diretamente a questão ou que muito provavelmente houve apenas um pequeno deslize de vocábulo.

Se continuarmos assim, estaremos brigando - o que não retrata nem um pouco a minha disposição. O que se configuraria também numa tolice: de um lado, um astrólogo anônimo cuja imagem do jornalismo é a de uma atividade que procura retratar os fatos com fidelidade; do outro lado, um jornalista do editorial cuja imagem da astrologia é a de uma atividade digna de asnos.

RESPOSTA DO JORNALISTA NO DIA 8 DE JULHO

Edil,

Não precisamos, em absoluto, brigar. Agradeço a referência. Vou voltar ao assunto em minha coluna (Pensata, no http://www.uol.com.br/folha/pensata/ult510u67.shtml de quinta-feira). Minha intenção nunca foi de qualificar a astrologia como atividade de asnos.

Só não acho razoável que se coloque dinheiro público - como o Projeto de Lei parece querer - nessa atividade em detrimento de tantas outras carências.
Abraço,
H.

NOVA OBSERVAÇÃO DO ASTRÓLOGO EM 9 DE JULHO

Hélio,

Se o seu artigo tivesse seguido unica e exclusivamente a linha de raciocínio que você frisou agora, seria obrigado a concordar: afinal, diante de tantas emergências da sociedade brasileira, um assunto como este - a regulamentação da profissão de astrólogo - talvez não seja tão prioritário.

Mas você não se ateve unica e exclusivamente a este raciocínio que vou chamar, aqui, de político e jurídico: você se enveredou pelo campo ético e epistemológico. Fui obrigado a discordar: afinal, conheço o assunto do qual falo.

Se você acha que não precisamos brigar, que bom! Nem eu gostaria. Mas realmente é inadmissível que a Astrologia receba críticas infundadas, por mais infundada que ela pareça e por mais que, nela, existam certos aspectos nebulosos - o que não é um atributo exclusivo deste campo de conhecimento.

Fica aqui registrado um voto de paz e a expectativa do artigo que você estará escrevendo pela quinta feira na sua coluna.

OBSERVAÇÃO FEITA PELO JORNALISTA DIA 9 DE JULHO

Edil,

Não creio que tenha avançado no campo ético. Em nenhum momento falei que a astrologia é má nem nada parecido. Entrei, sem dúvida, no campo epistemológico. E sigo convicto de que a astrologia não tem o mesmo estatuto das ciências "duras". Está, no máximo, no mesmo patamar das ciências sociais, que, para a epistemologia clássica, não são ciências.

Depois da quinta você me diz o que acha.
Abraço,
H.

RESPOSTA ENVIADA PELO ASTRÓLOGO EM 10 DE JULHO DE 2002

ÉTICA, JURISPRUDÊNCIA E A EPISTEMOLOGIA, QUE DE NOVO RETORNA

Hélio,

Desculpe-me caso tenha usado o termo "ético" equivocadamente. Mas, o que posso pensar de alguém que ajuíza: "O Estado só deveria regular atividades como a de médico, advogado ou engenheiro, que exigem grande conhecimento técnico e cujo exercício inepto ponha em risco a população. Esse, obviamente, não é o caso da astrologia". O que posso pensar dessa frase, visto que ela ignora absolutamente certos males ocasionados ao sujeito, inclusive realizados por outras atividades e ocupações? Ou não há nenhum prejuízo que um psicólogo, político ou economista possa oferecer ao sujeito no mal exercício da sua profissão?

Desculpe-me se a minha noção de ética é purista ou ingênua demais - mas a frase acima deixa a entender que uma certa lei só deveria valer no exercício de 3 profissões, visto que só elas prejudicam o indivíduo, sendo somente estas as profissões que deveriam ficar sob uma regulamentação que ditasse o que é certo e o que é errado. Mas... isto não é avançar, de alguma maneira, no campo ético? E se não há nada de ético que se possa subentender por baixo da esfera jurídica, o que posso fazer senão me corrigir e dizer que, se você não invadiu o campo ético, você enveredou pelo campo jurídico, do qual nada posso falar porque não tenho conhecimento e porque, na condição de leigo, só possuo a ingênua noção ética que mencionei acima. Aliás, ela tem sido suficiente para discernir o quanto que o mal exercício da atividade astrológica pode, sim, prejudicar o indivíduo, sendo em muito semelhante a atividade exercida pelo psicólogo - e daí a necessidade da regulamentação.

Aliás, é só isto que a nossa classe tanto frisa com relação à importância dessa lei que regulamenta a profissão de astrólogo: ela evitaria que oportunistas ou outros profissionais exercessem aquilo que deveria ser exclusivamente do âmbito do astrólogo comprometido com a seriedade e complexidade da disciplina que exerce ou pratica. Ou você nunca ouviu falar do caso de jornalistas que, sem qualquer conhecimento de astrologia, se arriscam a fazer horóscopo, mesmo que tenha sido num passado remoto ou num péssimo jornalzinho de bairro?

Isto é só para você ter uma vaga idéia que inclusive o mal exercício desta disciplina é que acaba sujando a sua imagem pública, encobrindo o trabalho sério e competente de astrólogos que trabalham e estudam anos a fio, e que se vêm numa luta redobrada toda vez que a sua imagem se torna mais "poluída" por pessoas ou instituições que desconhecem completamente do assunto - em especial a mídia, para quem o tema é somente mais uma pauta que precisa ser cumprida e, espera-se, com toda a diligência do mundo. E quando digo em especial é porque, até pouco tempo atrás, estava acostumado a incluir aí também o mundo acadêmico - mas, depois que fui conhecer o acervo das testes defendidas pelo Centro Simão Mathias da História das Ciências (olha a epistemologia aí) da PUC, tive que novamente mudar meus (pré)conceitos enrijecidos pela paixão que sempre me desperta o tema astrológico. Vá lá, dê uma olhadinha no acervo: mesmo que pequeno, ele é um escândalo para quem tem noções enrijecidas sobre o que seja ciência e sobre o que seja astrologia.

Aliás, ciência, universidade, conhecimento e saber são noções que volta e meia ficam em crise quando um determinado objeto não é compreendido pelas "epistemes" atuais. E de fato, a astrologia não tem o mesmo estatuto das ditas "ciências duras", ocorrendo o mesmo com as ciências sociais, tal como você observa.

Mas fica aí uma pergunta - e uma pergunta crítica, já feita por profissionais e filósofos que discutem este assunto até o âmago: será que isto não é um sinal para que se reveja os atuais crivos e parâmetros com que se institui certos conhecimentos e saberes como legítimos? Ou não? Para quem tem dúvida, é só dar uma olhada na proposta da Transdisciplinariedade, ultra moderna, ou então numa advertência já colocada no início do último século pelo tão conceituado Max Weber:

"se o cientista topa com fatos que não pode explicar com os meios atuais da investigação científica, não lhe cabe negá-los em nome seja do que for, ou ignorá-los, relegando-os à esfera da superstição".

do livro SOCIOLOGIA DE MAX WEBER, de Julien Freund, Forense, 87, onde se discute em especial a noção fundamental de neutralidade axiológica.

OUTRO E-MAIL ENVIADO PELO ASTRÓLOGO NO MESMO DIA
ASTROLOGIA: CIÊNCIA OR NOT CIÊNCIA?

Hélio,

Você já ouviu falar do trabalho e da pesquisa de Michel Gauquelin realizada em torno das décadas de 60? Apesar de todo o seu esforço metodológico e argumentativo a favor de reconhecer o fenômeno astrológico e de levantar suas provas, o seu trabalho se constituiu num dos mais importantes episódios acadêmicos do século, revelando - talvez melhor do que qualquer outra história em particular - a natureza verdadeiramente inquisitorial da Igreja científica na busca pretensa do conhecimento e da verdade.

É um trabalho realmente assustador, pelo seu tamanho e complexidade. Vale a pena conhecer - e isto por você ter dito que "até que alguém demonstre o contrário - o que é improvável -, a lógica científica não deve admitir que a passagem de Júpiter ou qualquer outro planeta por faixas imaginárias desenhadas nos céus interfere sobre os destinos dos homens".

Por isso, estou me dando a liberdade de te enviar um artigo que escrevi em defesa da Astrologia por ocasião de um debate que foi travado entre o nosso colega de profissão Maurício Bernis e o seu colega de profissão Ricardo Bonalume.
Que ele lhe seja de alguma valia.

RESPOSTA DO JORNALISTA EM 10 DE JULHO DE 2002

Edil,

A questão é que é um erro vocês astrólogos querem colocar o Estado no meio. Eu, por exemplo, sou filósofo por formação. Se aparecesse algum infeliz querendo regulamentar a profissão de filósofo ou tentando definir diretrizes curriculares obrigatórias, contaria com o meu mais veemente repúdio. Se quisermos ser verdadeiramente feyerabendianos, precisamos destruir todas as estruturas que enrijeçam a produção de saber. Regulamentações estatais são as maiores inimigas da verdadeira liberdade de pensamento.

Se vocês astrólogos querem seriedade precisam convencer a população, o mercado, de que vale a pena procurar astrólogos ligados às associações de classe, mas não esperar que o Estado faça isso. Insisto que o Estado só deve interferir em no máximo meia dúzia de profissões, especialmente medicina e direito. Elas servem uma população muito simples, que não tem condições de "escolher" no mercado bons profissionais. E, nesse caso, um charlatão pode levar à morte ou à cadeia. Não é o caso da esmagadora maioria das outras profissões.

Sobre o seu texto, achei interessante. Mas a pesquisa de Gauquelin apresenta algumas dificuldades: é retrospectiva, não-randomizada e sem controle. São elementos que diminuem o seu nível de evidência. Se aplicássemos os critérios da medicina, por exemplo, não poderíamos utilizá-la para recomendar mudanças de conduta. Serviria, no máximo, para demonstrar a necessidade de mais pesquisas.

De todo modo, para você ver que eu não sou um dos que participam da ditadura das ciências, anexo um texto meu já meio antigo em que faço críticas à suposta universalidade do método científico.
Abraço,
H.

Arquivo de textos de Hélio Schwartsman:
http://www.uol.com.br/folha/pensata/schwartsman.shtml

E-MAIL ENVIADO PELO ASTRÓLOGO EM 11 DE JULHO
ASTROLOGIA, ESTADO, INDIVÍDUO E CIÊNCIA

Hélio,

O fato de reivindicar o poder do Estado para resolver a nossa situação - como você mesmo disse - não é somente alarmante: é ambíguo. E por quê? Por que reconheço a invasão cada vez maior que o Estado vem realizando sobre a vida particular do sujeito, e o quanto isto é perigoso: mostra o quanto que o Estado tem se movimentado para se apoderar finalmente da alma humana, tolhendo o indivíduo de toda e qualquer liberdade possível. Afinal, nos EUA, o indivíduo já está sendo processado juridicamente somente por ter lançado um olhar suspeito sobre o outro (sobre a outra, melhor dizendo) e na maioria dos países a vida individual já está sob o enfoque obsessivo das câmeras, expondo a diferença humana a um julgamento público superficial e grosseiro. Reconheço este perigo, e partilho desta mesma opinião que você. Mas reconheço também o quanto que o convívio humano exige que certas situações se transformem em leis, regulamentando aquilo que, pela sua própria expressão espontânea, não chega a ter peso e medida - daí a necessidade da Jurisprudência. Ou do Direito, como queira, pois estou usando estes termos como leigo, na sua acepção popular.

É por isso que o tema de toda e qualquer regulamentação revela, no mínimo, uma aspecto ambíguo: ora dá o peso e medida das ações humanas, do que se deve e do que não se pode fazer, e ora pode, sim, limitar a esfera desta ação, coibindo o indivíduo de sua livre expressão. E é por isso que toda esta situação me leva a crer que a missão da Jurisprudência é árdua e difícil: parece que ela tem que encontrar uma lei que satisfaça a ambos aspectos, de modo que se possa regulamentar uma ação sem restringi-la em demasia. Não sei se esta é a missão da Jurisprudência, já havia falado que não entendo nada disso - mas que a situação é de alguma complexidade, é. Desejemos apenas que aqueles que se ocupem do Direito possam refletir sinceramente sobre isto e dar conta da tarefa a que se lançaram: a de legislar.

Como vê - ou como vejo - o assunto jurídico já é, por si só, de alguma complexidade. Se aliarmos a isto o fato de que o que se pretende regulamentar é a atividade de astrólogo, penso que a complexidade só tende a se duplicar, e isto por vários motivos. No entanto, seja quais forem estes motivos, toda esta complexidade só me leva a crer que o assunto, em hipótese alguma, já é um tema fechado mas, sim, um tema complexo a ser desembaraçado e analisado - o que só seria possível se todas as pessoas envolvidas se dispusessem a realizar uma discussão à altura que o assunto exige. Se somarmos à complexidade jurídica a complexidade epistemológica que o assunto envolve, tal como subentendemos pelos escritos dos seus pensadores, se verá o quanto é difícil esta questão, o quanto ela deveria estar aberta a análises e discussões profundas ao invés de se fechar em afirmativas dogmáticas, que vivem se amparando - por ambas as partes - no discurso da autoridade da ciência, da epistemologia, da tradição e de sabe lá mais o quê, impedindo que o assunto evolua ou prossiga.

Deveríamos, aliás, atentar para o fato de que se a Astrologia é usada como tema para demonstrar o relativismo absoluto dos conhecimentos e atacar as ciências empíricas é porque, de alguma maneira, ela tem seu poder e exige uma outra "episteme" para a sua compreensão - um "modo de compreender" a ser ainda (re)constituído. Desculpe-me se cometo uma incoerência e uso a voz da autoridade para fundamentar a questão, mas aí vai uma advertência do nosso físico Mário Schenberg a seu discípulo José Colucci Jr, engenheiro mecânico pela Unicamp, mestre e doutor em bioengenharia: que se ele pretendesse "aplicar o método científico deveria antes inteirar-se de suas limitações, pois o método científico testa a validade da hipótese e mais nada. Não revela se a hipótese a ser testada é a única possível, ou sequer se é razoável. Para formular hipóteses é preciso imaginação, pois fazer ciência é um ato criativo".

No meu entender, parece que muito coisa precisa ser rediscutida. Mas, pelo o que se vê, quando o assunto é Astrologia, há certos grupos que já partem da premissa que não há nada de importante a ser discutido. Estes sequer vislumbram que o recente fenômeno social chamado de Globalização, a recente reestruturação da Geografia (que passou a ser chamada de Ciências da Terra) e o nível de especulação astronômica que alcançamos coloca a espécie humana frente a uma indagação muito mais ampla pois, se antes bastava saber o lugar do indivíduo na sociedade e depois, com o passar do tempo, se tornou necessário saber o lugar do indivíduo no planeta, resta talvez agora vislumbrar e saber qual é o nosso lugar dentro do espaço cósmico - o que suscita a importância do estudo cosmológico que, querendo ou não, retoma e ressuscita o tema astrológico.
Ademais, tanto a natureza quanto o ser humano sempre foram objetos e campos de profundo interesse e atenção, dos quais inclusive já se extraiu algum conhecimento, havendo, entretanto, um único conhecimento que ainda não foi levantado com a sua devida importância - aquele conhecimento que fala exatamente da relação do homem com o mundo e do mundo com o homem, levando isto a seus últimos termos e às suas últimas conseqüências que, de uma maneira muito grosseira, foi e é a tentativa da história e da sociologia e, muito mais recentemente, da ecologia. Num futuro talvez não muito distante, quem sabe tal tentativa chegue e alcance o limite do astronômico. Quando isto acontecer, estaremos inevitavelmente retomando o raciocínio astrológico.

Por isso é que eu acredito que, quando o Homem se perguntar seriamente sobre o seu lugar no universo e sobre o sentido da sua vida, talvez pare de mirar o céu de forma meramente poética e passe a levantar sérias questões que, para sua surpresa, já foram elaboradas em tempos remotos - mas que nunca tiveram continuidade e o seu devido respeito. E estas questões, queiramos ou não, serão de natureza astrológica.

PS: Há muitas coisas que você mencionou em seus últimos artigos que gostaria de entender e discutir mas, se fizer isto agora, estarei escrevendo quase que uma monografia. Por isto, gostaria de conversar com você, em especial sobre a pesquisa randômica e retrospectiva. Mas penso que isto só será possível tão logo retome seu trabalho a partir do dia 1 do mês que vem, tal como você anunciou no final do artigo.

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O CÓDIGO DO UNIVERSO: O paradigma da realidade e o mapa astrológico

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