Paranóia e Poder:
Política e Psicologia de Massa - Parte 2
Por Emanuel Tadeu Borges

Ver Parte 1

( III ) O MAL EM “ALUCINAÇÕES DO PASSADO”

( “JACOB’S LADDER” )

Jacob é ferido por uma estocada de fuzil ao tentar escapar de uma chacina, saberemos mais tarde, promovida por um companheiro enlouquecido que massacra toda sua própria tropa (cena típica e tristemente americana). O filme, que assim se inicia, busca a partir daí um desvendamento do acontecido, tendo como foco e protagonista, Jacob, e como tema ou problema, o “mal”. Jacob, mortalmente ferido, empreende um acerto de contas consigo mesmo, uma retrospectiva se desencadeia (daquelas que, diz-se, ocorre com os moribundos, que passariam à limpo as imagens de toda a sua vida, antes de morrer): uma fantástica aventura de auto-conhecimento, elucidação. Percorre-se toda uma galeria de afetos, emoções, alegrias e tristezas, fantasmas, monstros, mêdos, dúvidas e certezas. Um violento confronto entre os poderes da dúvida, do ocultamento, das trevas e da destruição, em uma palavra: da morte, de um lado (“Você já está morto”, escuta repetidamente Jacob); e de outro lado, as forças da luz, da lucidez, do destemor, do amor, isto é, da vida: “Os demônios só são demônios quando nos deixamos perturbar por eles, se os acolhemos em paz eles tornam-se os anjos da nossa purificação.” Estranha colocação, em princípio, que se tornará, no entanto, a chave do problema, como veremos.

As cicatrizes no espírito de Jacob, são as verdades que as experiências, boas ou más, depositam numa linguagem secreta em nossa memória. Os afetos ganham corpos humanos a representá-los, logo trocam de corpos; toda uma imagética onírica se desenrola na qual, por sua vez, os corpos, variam de afetos e assim a situação vivida é resgatada e reprocessada e se alinhava a cadeias de acontecimentos não vividos, produzidos pela imaginação, no intuito de acelerar a compreensão, como se fosse um “acelerador de partículas” da consciência. Alucinações, rostos que trazem idéias, trechos de sonhos, lembranças reais e situações artificiais. Os demônios são a queima e destruição do mal, pois o mal acaba por destruir-se. É esta a cena nuclear do filme: “Irmão destruindo irmão”, a chacina dos próprios companheiros, no enlouquecimento da guerra e da droga denominada, a “escada”. O mal é auto-destrutivo, a violência precisa da violência. O mal é a distorção da sensibilidade e da percepção. A guerra e a “escada”, a droga para “estimular os soldados no combate”, é o “tiro pela culatra”, foge ao controle. Mas a “escada”, nada mais é que a aceleração da insanidade da guerra . Jacob descobre que trata-se de uma experiência do governo americano, cujas cobaias são os próprios soldados americanos que ingerem a droga sem o saber. Soa-nos familiar: “Rambo”, “Duro de matar”, “O Predador”, “Mad Max”. Carnificina de imagens e um modelo de heroísmo. Livre comércio de armas. A política externa americana. Estética de guerra. Escutemos Benjamim: “A guerra e somente a guerra permite dar um objetivo aos grandes movimentos de massa, preservando as relações de produção existentes.” Em seguida ele cita o manifesto sobre a guerra colonial da Etiópia, formulado por Marinetti, que nos parece uma concepção cenográfica de uma dessas produções belicistas da indústria cinematográfica norte-americana atual:

“Há 27 anos, nós futuristas contestamos a afirmação de que a guerra é antiestética...Por isso, dizemos:...a guerra é bela, porque graças às máscaras de gáz, aos megafones assustadores, aos lança-chamas e aos tanques, funda a supremacia do homem sobre a máquina subjugada. A guerra é bela, porque inaugura a metalização onírica do corpo humano. A guerra é bela, porque enriquece um prado florido com as orquídeas de fogo das metralhadoras. A guerra é bela, porque conjuga numa sinfonia os tiros de fuzil, os canhoneios, as pausas entre duas batalhas, os perfumes e os odores de decomposição.
A guerra é bela, porque cria novas arquiteturas, como a dos grandes tanques, dos esquadrões aéreos em formação geométrica, das espirais de fumaça pairando sobre as aldeias incendiadas, e muitas outras...Poetas e artistas do futurismo...lembrai-vos desses princípios de uma estética da guerra, para que eles iluminem vossa luta por uma nova poesia e uma nova escultura!” ( Benjamim, 1986; p.195/196 )

Como é que esse tipo de proposta vinga? Em que condições essas “flores do mal” podem vir a florescer? O que é o mal senão os sentimentos que recusamos, aprisionamos, humilhamos e que perdem o caminho, por assim dizer, em nosso espírito, corpo, coração, ao mesmo tempo que recusamos, também, o seu reflexo, o seu duplo no mundo? O que já não é tão simples como apenas reprimir em si mesmo.

A consciência ou “luz” é a possibilidade de reagrupar e religar, segundo uma nova composição, numa nova disposição, as populações inumeráveis que nos habitam, fazendo com que co-habitem, mesclem seus elementos, façam circular seus componentes: “melting pot”. Que são os demônios, como diz Jezie, senão “gentalha”, mendigos, “low life people”, que ajudamos a produzir, no mínimo por omissão e com os quais temos que conviver? Para cada um dos que encontramos, nas ruas ou nos becos, um outro correspondente, sob a forma de afeto, é produzido em nossas células, difunde-se em nosso sangue, imprime-se em nossos nervos. Que são as “forças do mal” senão o mal que fazemos, impomos ou simplesmente presenciamos e com o qual convivemos, passando ao largo? A vitalidade que trazemos pulsando em nós vai sendo conspurcada pela vida violentada no outro, até que se torne inconsciência, insensibilidade, depois desprezo, ódio e finalmente crueldade. A inversão desse desconhecimento, desse desvincular-se do mundo e de si mesmo, desse desarticular-se do meio em que se vive, das cenas em meio às quais se vive, reside no desapego e determinação do anjo/médico, nas visões de Jacob. Ele representa tudo o que leva ao conhecimento e compreensão das idéias, situações e sentimentos que compõem a trama complexa da vida, realizando assim o que os escolásticos denominavam explicatio (“explicação”, que significa literalmente, “abrir o que estava dobrado” e se quisermos ser mais explícitos, “desamassar o que estava embolado”). Manobra de descomplicação, enfim: compreender o seu papel nos movimentos de vida que se entrelaçam.

Nesse ponto, seria interessante estabelecer uma analogia com o conceito de cultura, segundo o filósofo francês Michel Serres, da maneira como ele o expôs numa entrevista na T.V. Cultura, em novembro de 1999. Dizia ele que cultura é fundamentalmente “mestiçagem”, sair de si e ir de encontro ao outro. Sair do “parasitismo” e partir para uma espécie de “simbiose”. Os indivíduos devem deixar de ser abusivos, parasitas, no sentido de que devem desprender-se da dependência em relação aos pais, em relação aos professores, em relação à sociedade e buscar entre si o que ele denomina o “contrato natural”, ou seja, essa espécie de “simbiose”. A Sociedade e a Cultura, não menos que a Natureza e a Biologia são “simbiose”, isto é, interdependência, troca de favores.

A globalização, em seu aspecto positivo, apontaria nessa direção: Aliança, Rede Global (se os homens vão ou não por aí, é outra história). Mais uma vez aparece aqui a idéia de mestiçagem, como mescla de diferentes modos de sentir, pensar, agir, criar soluções e formular problemas. Serres menciona as condições já dadas na realidade brasileira, apesar do ceticismo demonstrado por alguns entrevistadores, todos brasileiros, valorizando a mestiçagem étnica, real mistura de raças no Brasil, como formação de um povo e de um homem multiracial carregando, por conseguinte, em seu corpo, em si mesmo enquanto indivíduo, essa soma de diferenças, essa diversidade de cores, de tonalidades físicas, afetivas, intelectuais, artísticas, culturais, criativas enfim. Em seguida, perguntado à cerca da perda de valores, da memória, do real (devido ao advento da “realidade virtual”), por parte dos jovens e se isso constituiria uma ameaça, respondeu: ao deixar de ser quadrúpede e tornar-se bípede, o homem perdeu algumas funções, as mãos como apoio para locomoção e a boca como órgão de prender (abocanhar). Em contrapartida, ao tornar-se livre, a mão passa a pegar as coisas, manuseá-las e com isso desenvolve sua capacidade de uso, à ponto de mais tarde podermos ter o pianista, o cirurgião e até mesmo o prestidigitador! A boca, por sua vez, tendo sido liberada da função de pegar os alimentos, pode tornar-se órgão da fala! É isso a vida, só às custas da perda de certas coisas abre-se espaço para o surgimento de outras. Perdem-se certas condições, inventam-se novas. O “perder” abre-se para um “novo”: um inventar, um descobrir, um transformar.

( IV ) CONCLUSÃO: “O IMEDIATO É O SOCIAL”

Medos das ameaças e dos castigos sugeridos pelas crenças, superstições e dogmas induzidos por autoridades eclesiásticas, militares e científicas através de dispositivos ideológicos, químicos, eletrônicos, cibernéticos. Seitas, drogas, televisão, computadores. Fantasias, ficções, realidade virtual. Delírio, “bicho-papão”, “mula-sem-cabeça”, demônios e apocalipse. Sermões, discursos políticos, imprensa. Nào seria tudo, no fundo, a mesma coisa, com roupagens diferentemente sedutoras, na medida exata para as mentes sugestionáveis de cada época e de cada lugar? O “desvirtuador” usa o disfarce próprio a cada período, o instrumento ideal segundo cada época, o meio de comunicação ideal.

No período medieval, por exemplo, bastava uma boa história à cerca dos castigos infinitos após a morte para aquele que ousasse mover um dedo que fosse contra a ordem estabelecida, a terrível aliança do poder pastoral com o poder temporal. Mais recentemente, o poder de anular a vontade ganha um novo avatar, que vem se juntar às duas outras potências alienadoras já existentes. À via ideológica de alienação, que se caracteriza pela união de indivíduos em torno de idéias exclusivistas e segregacionistas de caráter político, étnico, religioso, etc. E à via química, que começa com um certo uso da medicina social, em sua relação com o problema da produtividade, como estudado por Foucault, passa pela psiquiatria e culmina com a difusão das substâncias psicotrópicas como “paraísos artificiais”, à partir dos anos 60. Vem se somar a esses dois poderes a via cibernética, a informática, que se desdobra no controle das atividades e funções sociais de serviço e no desenvolvimento da chamada “realidade virtual”, um mundo sem que seja necessário sair do lugar, nem mesmo sair-se de si, liberando o homem para uma passividade e inércia de consequências insuspeitadas no que se refere à sua liberdade criativa.

Diante desse quadro torna-se essencial a busca de meios de resistência e oposição a essas formas de dominação, nos campos da filosofia, psicologia, ciências políticas e sociais e artes. A busca de aliados que se voltem, de um lado, no sentido de desembaraçar o novelo em que se tornou o inconsciente, enquanto campo dos desejos e das criações, visando uma clareza conceitual e prática e à partir daí, melhores condições de luta através da teoria e da prática relativas à questão da produção da subjetividade. E de outro lado, também aliados na área científico-tecnológica, que se dediquem a uma estratégia de desmontagem dos aparelhos de dominação técnicos, tecnológicos, sociais e cibernéticos, reorientando todo o encaminhamento dos usos e funções desses aparelhos e instrumentos. É preciso determinar quais os objetivos práticos e as ações cruciais a serem desencadeados e que aspectos nocivos das práticas sociais devem ser analisados e eventualmente desmistificados e denunciados. Por exemplo, o consumo de drogas como recurso questionável para a expansão da consciência, como o foi para muitas sociedades tribais, em seus usos religiosos e para a juventude, nos anos 60 e 70, como forma de “liberação da consciência”. Em primeiro lugar por ser prejudicial ao corpo e principalmente por estar ligado inapelavelmente, hoje em dia, ao poder financeiro e à criminalidade (se é que não o esteve sempre).

Hoje em dia, quando uma criança maltrapilha aproxima-se para pedir dinheiro, damo-nos conta de que não há mais lugar para o chamado “prazer pessoal”, ou seja, que o prazer deve tornar-se transpessoal, isto é, fraternal (se é que há algum sentido em se falar de uma “Nova Era”, deve ser este). Cada ato é político, cada atitude deve ser cunhada em solidariedade. É o que nos mostrou o Betinho: O IMEDIATO É O SOCIAL. Não há mais nações, instituições, ideologias, teorias que devam ousar ser pensadas separadamente. Estamos todos irremediavelmente “enganchados”. Cada ato ou omissão de cada um é um nó de força ou o desatar de um nó numa imensa rede. As grandes cidades são excelentes lugares para que constatemos essa realidade, basta olhar em torno com olhar profundo, quer dizer, com “profundidade de campo”. Todos devemos buscar essa profundidade de olhar, não só em nossas respectivas profissões, como no cotidiano puro e simples e mesmo nos momentos de lazer e descontração: SOLIDARIEDADE SEM TRÉGUAS. Fernando Pessoa nos mostra como (em algo que talvez pudéssemos chamar “socialismo pessoano”):

“Vou num carro elétrico, e estou reparando lentamente, como é meu costume, em todos os pormenores das pessoas que vão diante de mim. Neste vestido da rapariga que vai em minha frente decomponho o vestido em o estofo de que se compõe, o trabalho com que o fizeram_ pois que o vejo vestido e não estofo_ e o bordado leve que orla a parte que contorna o pescoço separa-se-me em retrós de seda, com que se o bordou, e o trabalho que houve de o bordar. E imediatamente, como num livro primário de economia política, desdobram-se diante de mim as fábricas e os trabalhos_ a fábrica onde se fez o tecido; a fábrica onde se fez o retrós, de um tom mais escuro, com que se orla de coisinhas retorcidas o seu lugar junto ao pescoço; e vejo as sessões das fábricas, as máquinas, os operários, as costureiras, meus olhos virados para dentro penetram nos escritórios, vejo os gerentes procurar estar sossegados, sigo, nos livros, a contabilidade de tudo; mas não é só isto: vejo, para além, as vidas domésticas dos que vivem a sua vida social nessas fábricas e nesses escritórios... Todo o mundo se me desenrola aos olhos só porque tenho diante de mim, abaixo de um pescoço moreno, que de outro lado tem não sei que cara, um orlar irregular verde escuro sobre um verde claro de vestido.
Toda a vida social jaz a meus olhos.
Para além disto pressinto os amores, as secrecias[sic], a alma, de todos quantos trabalharam para que esta mulher que está diante de mim no elétrico, use, em torno do seu pescoço mortal, a banalidade sinuosa de um retrós de seda verde escura fazenda verde menos escura.
Entonteço. Os bancos do elétrico, de um entre-tecido de palha forte e pequena, levam-me a regiões distantes, multiplicam-se-me em indústrias, operários, casas de operários, vidas realidades, tudo.

Saio do carro exausto e sonâmbulo.Vivi a vida inteira.”( Pessoa/ Soares,1995; p.93/94 )

Dois outros autores associam a condição para a efetiva realização da solidariedade a uma situação de extrema vulnerabilidade dos indivíduos. Marshall Berman chama a atenção para as circunstâncias em que se dá a transformação do rei Lear, na tragédia de Shakespeare. Só o homem desacomodado, isto é, destituído de seus privilégios e salvaguardas, despido de suas proteções e confortos, e com isso, exposto às intempéries da vida, em uma palavra “literalmente nu perante a natureza”, considera Berman, é capaz de solidarizar com seus semelhantes, especialmente os mais “dessemelhantes” dentre eles, os miseráveis, e viver a condição humana em sua plenitude.

“Pobres miseráveis desnudos, onde quer que estejam,
Que aguardam o golpe dessa impiedosa tormenta,
Como suas cabeças desabrigadas, seus ventres vazios,
Seus rotos e imundos farrapos poderão protegê-los
De intempéries como estas? Oh, dei muito pouca
Atenção a isso! Toma esse remédio, oh pompa inútil:
E tu, que possas sentir o que os miseráveis sentem,
Para que o supérfluo de tua dor se espalhe entre eles
E mostre bem clara a justiça dos céus.” ( Rei Lear; III, 4, 28-36 )

Berman comenta:

“Seu triunfo [de Lear] consiste em transformá-lo em algo que ele jamais havia sonhado ser, um ser-humano. Aqui uma esperançosa dialética ilumina a trágica intempérie e a desgraça. Sozinho no vento, no frio e na chuva, Lear desenvolve a visão e a coragem para romper com sua solidão, para tocar seus semelhantes no encalço de calor mútuo. Shakespeare nos diz que a ameaçadora e nua realidade do ‘homem desacomodado’ é o ponto a partir do qual uma reacomodação pode ser conseguida, a única base sobre a qual uma verdadeira comunidade pode ser construída.” ( Berman, 1986; p.105 )

Em meio à luta pela sobrevivência é possível ao homem atingir aquele “grau zero de subjetividade”, em que deixa de ser um indivíduo, uma pessoa e torna-se aquele ser cuja largueza de espírito é capaz de abarcar, acolher as experiências de todos os outros homens e ao qual todos os indivíduos, por sua vez, sentem-se impelidos a conjugar suas próprias experiências. Subjetividade pura, sem sujeito, ‘pura imanência’, como diz Deleuze: “uma vida”.

“Um canalha, um malfeitor por todos desprezado, é encontrado à morte e eis que os que dele passam a cuidar manifestam um certo tipo de envolvimento, de respeito e de amor ao menor sinal de vida do moribundo. Todo mundo luta para salvá-lo, à ponto de que, do fundo do seu coma, o próprio vilão sente algo de doce penetrá-lo. Mas à medida em que ele retorna à vida, seus salvadores se fazem cada vez mais frios, e ele reencontra toda sua grosseria, sua malvadeza. Entre sua vida e sua morte, há um momento em que trata-se de ‘uma’vida lutando contra a morte. A vida do indivíduo deu lugar a uma vida impessoal e no entanto singular, que libera um puro acontecimento destituído dos acidentes da vida interior e exterior, quer dizer, da subjetividade e da objetividade do que acontece. ‘Homo Tantum’, do qual todos se compadecem e que atinge uma espécie de beatitude.”( Deleuze, 1995; p.5)

Profundidade de perspectiva para fora de si mas também para dentro de si mesmo; para quebrar as correntes do próprio passado ( que detém a visão clara do presente ) e ajudar a construir os alicerces do futuro coletivo deslocando-o da terceira para a primeira pessoa do plural. Isso requer coragem e concentração, firmeza e clareza. Por exemplo, no exato momento em que escrevo essas linhas, ouço, em crescendo, um bloco de carnaval que sobe a rua . O barulho aumenta progressivamente. Esse tipo de coisa tem o poder de nos distrair. “CARNAVAL, FUTEBOL E BEBIDA PRÁ ESQUECER”, fazem parte da “identidade nacional”. E no entanto, tudo isso é uma mecânica e exaustiva repetição do que um dia foi espontaneidade, alegria e arte. “Se a música é ruim, aumenta o volume”. “Se a bebida não faz mais efeito, aumenta a dose”. “Se o futebol é medíocre, briguemos nas arquibancadas”. Mas não se trata aqui de amargura, uma vez que há uma alternativa a essa embriaguês coletiva em que vivemos: é o voltarmo-nos para o COTIDIANO IMEDIATO, o que está “diante de nossos narizes” na lucidez passível de ser construída em cada pequeno ato.

BIBLIOGRAFIA:

BENJAMIM, WALTER. “Obras Escolhidas; Magia e técnica/Arte e Política.” São Paulo: Brasiliense, 1986.

BERMAN, MARSHALL. “Tudo que é sólido desmancha no ar.” São Paulo, Companhia das Letras, 1986.

DELEUZE, GILLES_ “L’imanence: une vie...” in Philosophie n.47, setembro de 1995; Paris, De Minuit.

DELEUZE, GILLES e GUATARI, FÉLIX_ “Mil platôs”vol. 3, São Paulo, Ed. 34, 1996.

PESSOA, FERNANDO_ “Livro do Desasossego por Bernardo Soares”; São Paulo, Brasiliense, 1995.