Em 14 de março de 2003, estréia nos cinemas do Brasil a versão cinematográfica de mais um super-herói das histórias em quadrinhos: O Demolidor.

Daredevil, ou melhor, Demolidor, como é conhecido no Brasil, é um personagem cujo simbolismo é facilmente associável ao arquétipo da Justiça. As traduções possíveis para “daredevil” seriam: “indivíduo temerário”, “intrépido”, “valente”. Aliás, o Demolidor é conhecido como “O Homem Sem Medo”. “Dare” quer dizer “desafio”, “ousadia”, “atrevimento”. O contexto das histórias de Daredevil não seria incompatível com um nome como “Demônio Atrevido”. O herói, tal como o Batman de Bob Kane, deseja, antes de tudo, instilar o terror entre os bandidos.

Matt Murdock, o alter-ego do Demolidor, é cego como Têmis, a Justiça, e é advogado. Mas como um super-herói pode ser cego e combater o crime? A resposta que Stan Lee, o criador do personagem, encontrou foi a ampliação de seus 4 sentidos restantes e uma espécie de radar que o alertava para os objetos e pessoas ao redor. Na década de 80, quando o personagem já contava seus vinte anos de existência, este radar assumiu o caráter de uma percepção extra-sensorial desenvolvida por disciplina com um mestre de artes marciais igualmente cego chamado Stick, cujo nome se traduzido seria “cajado”, “bordão”, “cacete” ou “bastão” (e ele usa um). Stick é o aguilhão de que tanto falamos ao tratarmos do Superman no curso de Astroeltiva “Astrologia e Mitologia nos Quadrinhos”, mas o contexto do Demolidor não está relacionado ao simbolismo judaico, conforme demonstro no referido curso sobre o Superman, e sim ao cristão. Matt é um devoto católico que vai ao confessionário tentar amainar seus pecados. Mas enquanto o inofensivo Matt Murdock é seguidor da lei e um pacato cidadão, o Demolidor veste-se de diabo e massacra seus oponentes com técnicas de luta e acrobacias. Ele faz com que a lei e a justiça se cumpram nem que seja na marra, coisa que Matt não pode fazer, pois isso contrariaria o ideal de sua profissão.

Inicialmente Daredevil vestia-se de amarelo e suas técnicas de luta eram baseadas no boxe e em lutas livres. Posteriormente, Wally Wood passou a desenhá-lo com o uniforme vermelho. O desenhista e argumentista Frank Miller nos anos 80 introduziu o aspecto kung fu e o domínio psicofísico desenvolvido a duras penas pelo herói em seu treinamento com Stick e seus outros pupilos ninjas. O “avermelhamento” de seu traje e o fato de ser um lutador acima de qualquer coisa indica uma forte presença de Marte em sua dinâmica. E esta evolução do traje pode muito bem estar ligada ao fato de o Sol e Marte, em fevereiro de 1964, quando o Demolidor foi criado, terem estado em conjunção durante vários dias. Com o tempo o herói assumiria um caráter mais marcial.

O envolvimento com a justiça, sua profissão de advogado, lembram uma mescla entre atributos sagitarianos e librianos num mapa simbólico. Os sentidos superdesenvolvidos e os chifres na máscara do Demolidor a princípio poderiam sugerir um Ascendente em Touro. Mas a imagem diabólica que o personagem quer transmitir àqueles que combate é uma forte alusão ao simbolismo de Plutão. A visão cristã de inferno pode diferir visualmente da percepção dos gregos antigos, mas o sentido é praticamente o mesmo, com poucas divergências. Plutão é um demônio, ao mesmo tempo o senhor da morte e dos reinos subterrâneos. Esta é a idéia que a iconografia e os modelos cristãos fazem do que seria o inferno, a condenação ao sofrimento eterno. O uniforme do Demolidor é uma lembrança de um “julgamento divino para os pecadores”. Nele está envolvida toda a crença no purgatório e na pesagem das boas a más ações do ser humano. É como se ele dissesse: “Seja bonzinho, senão você vai para o inferno e o inferno, meu chapa, sou eu espatifando sua cara”. Se todas essas coisas soam como algo meio saturnino, meio plutoniano ou até meio “cármico”, não se espante: é mesmo. Saturno está exaltado em Libra e tanto Saturno quanto Plutão estão relacionados à culpa, à pesagem de prós e contras nos atos alheios e próprios.

Quanto a esse aspecto plutoniano e ao mesmo tempo ligado à Têmis grega, convém dizer que entre as filhas desta deusa estão as Parcas ou os Destinos, seres que seguem somente suas próprias leis. Falar de quem segue somente suas próprias leis lembra algo plutoniano como as Erínias. Ora, se Matt Murdock é uma Astréia ou uma Têmis, Daredevil é a encarnação das Erínias gregas ou Fúrias do simbolismo romano, as vingadoras dos pecados cometidos ante a justiça divina.

Plutão na 1