O SUJEITO EPISTÊMICO

Wagner de Menezes Vaz


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EPA, CALMA LÁ, NÃO É XINGAMENTO!

Este trabalho tem por objetivo fazer um pequeno resumo, a partir de diversas leituras, acerca do sujeito e sua relação com a aquisição do conhecimento. E para isto busco em Piaget uma orientação que reputo essencial para este entendimento.

Como é possível obter o conhecimento? Esta é a pergunta sobre a qual os filósofos se debruçaram ao longo de muitas reflexões; e mais – conhecimento de que? Ora, o homem se depara com seu meio circundante e é com este que ele se relaciona. Piaget possui um entendimento elástico do significado desta palavra “meio”: natureza, objetos construídos pelo homem, idéias, valores, relações humanas, sua história e cultura.

Segundo Piaget o conhecimento não é pré-existente (inato) nem tampouco fruto daquilo que se percebe da experiência direta; ele se dá a partir das ações e interações do sujeito com o ambiente em que vive. A palavra não tem o significado que o senso comum atribui. Para ele o termo "conhecer" tem sentido abrangente: organizar, estruturar e explicar, porém, a partir do experienciado. Conhecer é algo que se dá a partir da vivência, ou seja, da ação sobre o objeto do conhecimento.

ASSIMILAÇÃO:
Um processo mental

O conhecimento não ocorre sem a estruturação do vivido (conceitos). Coisas e fatos possuem significação para o ser humano quando inseridos numa estrutura (assimilação). Para Piaget a significação é o resultado da possibilidade de assimilação. Entende-se assimilação como sendo um processo mental pelo qual se incorporam os dados das experiências aos esquemas de ação e aos esquemas operatórios existentes. É um movimento de integração do meio no organismo. Entende-se acomodação como sendo um processo mental pelo qual os sistemas existentes vão modificar-se em função das experiências do meio. É um movimento do organismo no sentido de se submeter às exigências exteriores, adequando-se ao meio. É uma atualização dos esquemas. Ao processo de regulação entre assimilação e acomodação dá-se o nome de “equilibração”. Estes são interativos, pois o fato de o sujeito integrar os dados do meio e estes serem assimilados permite que os esquemas evoluam e que, portanto, sejam mais capazes de responder aos problemas.

A cada novo objeto, primeiramente o sujeito tenta enquadrá-lo aos seus esquemas prévios, ou seja, assimilá-lo. Porém, diante da resistência do objeto, quando os esquemas prévios não dão conta de garantir o reconhecimento das diferenças, o sujeito acomoda-se ao objeto, ou seja, modifica suas estruturas, ou cria um novo esquema para classificar aquele objeto e reconhecê-lo. Pode-se dizer, portanto, que a assimilação não resulta na mudança dos esquemas, mas afeta seu crescimento, produz um refinamento, tornando-o capaz de abranger um número maior de semelhanças nos objetos. Por outro lado, ao se acomodar ao objeto, ou modificando a estrutura do sujeito, ou criando uma nova estrutura, o sujeito aumenta sua capacidade de abranger um número maior de diferenças. Então, podemos dizer que a construção do conhecimento é um processo de desequilibração gerado pela presença do “novo” e posterior equilíbrio, o qual se dá através da assimilação e da conseqüente acomodação, tendo como resultado a adaptação do sujeito ao meio, sem o qual ele não sobreviveria.

Um desafio para o estudioso se lança quando tenta-se investigar a relação existente entre a fisicalidade e os processos mentais, isto é, de que forma este intrincado organismo humano em sua adaptação ao meio constrói no sujeito um conhecimento acerca deste próprio meio. E, investigando a forma pela qual este se conhecimento se dá, estamos de fato entendendo de que forma o sujeito se constrói. Piaget considera o desenvolvimento não como um desenvolvimento orgânico em si mas como uma construção que depende do equilíbrio organismo - meio. O desenvolvimento orgânico já não é visto separadamente das aquisições, isto é, da construção de processos cognitivos.

CONHECIMENTO:
Fusão entre o indivíduo, seu organismo e o meio

Então, se o objeto do conhecimento é o meio, qual o sujeito do conhecimento? O sujeito do conhecimento para Piaget, é o “sujeito epistêmico”, um sujeito ideal, universal, que não corresponde a ninguém em particular, embora sintetize as possibilidades de cada uma das pessoas e de todas as pessoas ao mesmo tempo. O sujeito epistêmico é, então, o sujeito do conhecimento. O sujeito epistêmico (o sujeito que conhece) é o resultado de uma construção a partir da ação do próprio sujeito.

O termo “sujeito epistêmico” surgiu da epistemologia genética de Piaget (gênese do conhecimento) que enfoca os processos cognitivos da espécie diferenciando-os dos processos cognitivos do indivíduo (sujeito psicológico). Através dela procurou mostrar as mudanças qualitativas associadas ao período de desenvolvimento sensório-motor da criança até a adolescência, quando tem inicio o desenvolvimento do pensamento formal

Piaget entende a cognição como um “processo universal, que permite ao sujeito epistêmico selecionar, generalizar e representar, através de sua ação, as leis que o habilitam a transformar a realidade ”. Como o dissemos, a capacidade de conhecer é fruto da interação organismo-meio. O ser humano possui estruturas específicas para o ato de conhecer, responsáveis pela nossa capacidade de estabelecer relações lógicas – as estruturas mentais. Além de demonstrar o funcionamento das estruturas mentais, a teoria piagetiana ocupa-se de explicar como o organismo constrói essas estruturas.


Wagner de Menezes Vaz, estudante do quarto período de Psicologia da Universidade Estácio de Sá, Bacharel em Ciências Econômicas pela UFRJ e Analista de Sistemas pela PUC-RJ.